sábado, 3 de julho de 2010

A paixão haitiana pelo futebol

No período em que estive na missão de paz da ONU no Haiti, entre outras questões culturais, me chamou a atenção a paixão dos haitianos pelo futebol. E o fato curioso é a rivalidade existente entre duas grandes torcidas. Sim, no Haiti ou você torce pelo Brasil ou você torce pela Argentina. A França, devido à colonização, aparece apenas como segunda opção, é impressionante. Podemos comparar esta rivalidade com a existente entre torcidas brasileiras como as de Grêmio e Internacional, Flamengo e Vasco, Corinthians e São Paulo, Figueirense e Avaí, Atlético e Coritiba, Atlético e Cruzeiro, Remo e Paysandu, entre outras. Bom, para os amantes do futebol dá para ter uma idéia da situação. Não foi à toa que o Presidente Lula levou a seleção brasileira para jogar um amistoso com o selecionado haitiano em Porto Príncipe em 2004.
Durante meu período de missão, o segundo mês coincidiu com a realização da Copa América, da qual o Brasil sagrou-se campeão justamente contra a Argentina, vencendo a final por 3 x 0. Impressionou-me a decoração das ruas da capital haitiana com bandeiras brasileiras e argentinas, como na foto abaixo tirada na Rua Delmas, um dos principais eixos de ligação entre a parte alta e o centro de Porto Príncipe. Embora a foto tenha sido tirada do interior da viatura, pode-se visualizar com nitidez as cores verde e amarela nas bandeirinhas bem como uma bandeira brasileira hasteada no canteiro central da pista.
Também era fácil encontrar nas esquinas ambulantes vendendo camisetas e bandeiras das duas seleções, como na foto abaixo.
Quando havia um jogo o país praticamente parava, assim com ocorre aqui no Brasil. No entanto, no Haiti existe um problema sério de energia elétrica, pois como o país não produz energia suficiente, eram poucas as horas do dia em que a população tinha “luz”, somente cerca de 5 a 7 horas diárias. Após esse período, apenas quem tinha gerador podia, por exemplo, assistir a uma partida de futebol. A conseqüência disso era uma multidão de pessoas em volta de poucas televisões de 14 ou 20 polegadas em locais públicos como bares e restaurantes. Lembro que o fanatismo pelo futebol brasileiro e argentino chegava a situações extremas de, por exemplo, um haitiano ter perdido sua casa ao apostar que a Argentina seria campeã. Ou outra história contada pelos funcionários haitianos da ONU de que um haitiano havia, em outra ocasião, apostado a sua esposa. Prefiro pensar que esta última faz parte apenas do folclore do futebol haitiano, pois para mim beira à loucura.
São por estas e outras histórias que as notícias que li hoje pela manhã no site da Globo.com, embora trágicas, não me surpreenderam. Ontem, após o término do jogo do Brasil pelo menos 4 pessoas morreram. Um torcedor teve um ataque cardíaco em Petion Ville e outros três cometeram suicídio. Um dos casos foi o de um jovem haitiano de 18 anos o qual não assimilou a eliminação da seleção canarinho e se suicidou jogando-se embaixo de um veículo próximo ao local onde assistia a partida no bairro Nérette.
Não esqueçamos que futebol é apenas um esporte, daqui 4 anos tem de novo. Espero que tenhamos mais sorte em 2014!

2 comentários:

  1. Meu amigo,

    Não esqueça de que somos campeões de futebol da Copa Haiti, ehhehe.
    Eu como técnico e vc como auxiliar e cartola....
    Fale isso no blog. Vou te mandar umas fotos.
    Um abraço,

    TC Braga

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  2. Pois é Comandante, fomos campeões no Haiti. Participei somente da final, mas é o que vale!
    Grande abraço, esta semana eu escrevo um texto sobre o campeonato.

    Cap Marco

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