A segunda-feira (15 nov) foi de intensas manifestações da população contra a presença da ONU no Haiti. Os confrontos mais violentos ocorreram em cidades do norte do país. Em Cap Haitien, uma das maiores cidades haitianas, manifestantes armados atiraram contra as tropas da MINUSTAH. Segundo o porta-voz da ONU, Vicenzo Pugliese, os Soldados agiram em legítima defesa e revidaram ao ataque sofrido resultando em um civil morto. Uma das mortes foi registrada em Quartier-Morin, quando homens armados tentaram entrar no heliporto da base militar da ONU. Manifestantes armados atiraram contra soldados do heliporto, que, por sua vez, revidaram e acertaram um dos agressores. As manifestações ocorreram em virtude da epidemia de cólera, a qual teve sua origem atribuída à Soldados nepaleses, e que em apenas um mês provocou a morte de quase mil haitianos em várias regiões do país.
No entanto, autoridades da ONU atribuem a onda de protestos à proximidade das eleições legislativas marcadas para o próximo dia 28 de novembro e a possível participação de partidos políticos com o intuito de provocar a desestabilização e desordem na população, com vista a obter vantagens nas eleições.
No período em que estive no Haiti (jun 2007 a jun 2008) acompanhei várias manifestações da população contra o governo e contra a MINUSTAH, principalmente na capital Porto Príncipe, e invariavelmente eram partidos políticos que manipulavam estas manifestações. Em um primeiro momento, um estrangeiro desavisado poderia pensar que aquelas eram manifestações legítimas do povo em um país de governo democrático, no entanto, com o passar do tempo, verificamos que as manifestações eram extremamente organizadas, com hora para iniciar e para terminar. Em uma dessas oportunidades, um amigo haitiano nos relatou que cada grupo de manifestantes tinha um líder e este recebia cerca de 10 dólares por dia para colocar o seu grupo na "rua". As manifestações de maio de 2008 culminaram com a queda do Primeiro-Ministro.
Embora a situação hoje seja outra, bem como a motivação para as manifestações, não pude deixar de lembrar de fatos práticos que vivenciei nos 12 meses de estada em Porto Príncipe.
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