Na última segunda-feira, dia 09
de julho de 2012, o Sudão do Sul comemorou seu primeiro aniversário de
independência. Feriado nacional e celebrações em todas as cidades. Aqui em Akobo
não foi diferente. Grande parte da população local se concentrou no pátio da
Prefeitura, palco de todos os acontecimentos importantes da cidade. Nas fotos abaixo podemos ver alguns momentos da cerimônia. Na sequência aparecem alguns grupos de dança folclórica esperando sua vez de se apresentar; a tropa formada em frente ao palanque constituída de Militares, Policiais e Agentes Penitenciário; e a equipe de UNPOLs de Akobo junto às autoridades no palanque oficial.
Lideranças políticas, tribais,
militares e policiais fizeram seus discursos enaltecendo este ano de
conquistas, destacando principalmente a situação local. Lembraram de todos
aqueles que perderam suas vidas na busca da independência, conclamando a todos
aqueles que perderam irmãos, pais e filhos no tempo de guerra para que
continuem perseguindo os sonhos daqueles que já partiram, lutando para que a
perda de preciosas vidas não tenha sido em vão.
Mas há algum tempo eu já vinha me
questionando: quais foram os progressos obtidos? Somente com o povo eu poderia
obter esta resposta. Um dos momentos que entendo ser mais precioso durante a
missão é quando tenho oportunidade de conversar com as pessoas simples do povo.
É com estas pessoas que acabo obtendo as informações mais valiosas para
entender a maneira como eles entendem a vida, a sua cultura e as perspectivas
que eles tem para o futuro.
Em uma dessas conversas o tema
era justamente este: se eles conseguiam visualizar alguma melhora em suas vidas
após a independência. Como já referi, a análise sempre tem como base a cidade
de Akobo. A reposta é unânime: quase tudo mudou para melhor. Pois após logo no
início do processo de preparação para o referendum que culminou com a
independênica a ONU instalou a base aqui em Akobo. Com a instalação da base,
outros organismos internacionais se instalaram no município, tais como a ONG Save the Children e o Escritório do World Food Programme, agência das Nações
Unidas responsável por programas de distribuição de alimentos, e o escritório
da UNOPs, o qual tem como tarefa principal a construção de uma ponte sobre o
rio que faz a fronteira com a Etiópia.
Todas estas agências empregam
trabalhadores locais. Isso faz o dinheiro circular no comércio, fazendo com que
os comerciantes, tendo mais dinheiro, possam comprar uma variedade maior de
produtos para ofertar aos consumidores. A estabilidade política e de segurança também
trouxe como benefício a regularidade de pagamento de salários para os
funcionários públicos tais como professores, militares e policiais.
Mas com certeza a informação que
mais me impressionou foi a referente à água. Pois a realidade que encontrei
quando cheguei a Akobo em abril deste ano, com bicas públicas espalhadas por
toda a cidade, é relativamente nova. Há cerca de um ano e meio atrás não
existiam estas bicas, a população tomava água do rio, o mesmo rio que usam para
tomar banho e lavar roupas. Dentro desta
perspectiva local, a independência foi excelente para todos. Na foto abaixo podemos ver uma destas bicas.
No entanto, esta semana li um
artigo publicado no periódico britânico The Guardian, o qual analisa a situação
do país como um todo. O artigo alerta para o fato deque o Sudão do Sul está a
beira da falência e que provavelmente enfrentará problemas para pagar os
salários dos funcionários públicos já no mês de agosto. Isto se deve ao fato da
paralisação na produção de petróleo. O governo local tomou esta decisão tendo
em vista os problemas com a demarcação da fronteira e a cobrança de altas taxas
de estocagem e transporte do petróleo por parte do governo do Sudão do Norte. O único caminho disponível para o Sudão do Sul
exportar seu petróleo é através dos oleodutos e do porto do Sudão do Norte. Em abril
deste ano o Presidente Salva Kiir viajou à China em busca de financiamento para
a construção de um oleoduto que alcançasse o Mar Vermelho através da Etiópia,
no entanto não obteve sucesso. O petróleo responde por 80% da economia do Sudão
do Sul e por 98% do orçamento público. O mapa abaixo mostra a localização dos poços de petróleo e os oleodutos existentes atualmente.
O Sudão do Norte também começa a
enfrentar problemas econômicos pela diminuição na produção de petróleo e teve
que iniciar um programa de corte de gastos públicos. Os analistas dizem que
este problema em comum pode ser o motivo que faltava para que ambos os governos
retomem as negociações para um acordo de paz definitivo que, na medida do
possível, atenda aos anseios de todos.
2 comentários:
Selva! Grande Marco!
Estou chegando para compor a equipe brasileira no Sudão do Sul.
Sou o Cap Afonso do EB.
Estávamos no CCOPAB no ano passado, lembra?
Abração.
E aí Afonso, seja bem vindo ao time!
Estamos no aguardo de vocês aqui. Hoje comecei a trabalhar em Torit, aqui o Senior MLO é o Coronel Bessa do EB.
Postar um comentário