Motivado por um debate feito no grupo UNPOL a respeito do nível de conhecimento do idioma inglês necessário para realizar as provas no COTER, resolvi escrever um pouco de como é a experiência com o idioma estrangeiro no Haiti. Abaixo transcrevo o comentário que fiz no grupo de discussão:
"Fiz 8 semestres no WIZARD antes de fazer as provas no COTER. Iniciei os estudos com outro objetivo, pois na época queria fazer as provas para o Itamaraty. A missão veio como consequência, motivado pelo Capitão Araújo, meu colega de turma, que foi para Kosovo. Quanto fiz as provas em Brasília em set de 2006 não tinha tido contato com a coleção campaign, a qual conheci após o concurso.
Acredito que ao chegar na missão meu inglês era de médio para baixo, o Carrera tá aí para provar. Durante o tempo de missão desenvolvi muito o listening e a escrita (foram muitos reports), mas não atingi o nível que esperava na conversação. Isso tem uma explicação.
Como a ONU considera a MINUSTAH como uma missão francofônica, todo o meu induction training foi em francês. Tiveram que colocar um intérprete sentado do meu lado em todas as aulas. O instrutor ia falando em francês e o haitiano ia traduzindo para o inglês pra mim. Imagina o transtorno.
Meu primeiro deployment foi para a Traffic and Circulation Unit a qual era composta por 06 UNPOLs (02 do Níger, só falavam francês; 01 Russo, sabia inglês mas só falava francês, 01 espanhol habilitado em francês, eu e o Maj Braga PMPA, que era fluente nos dois idiomas). Nos dois primeiros meses de missão, nas atividades de monitoramento (trabalhávamos todos os dias nas ruas em contato com os policiais haitianos e a população), como eu estava sempre com o Maj Braga, eu entrava mudo e saia calado, pois todas as conversações eram em francês. Nunca esqueço uma oportunidade em que estávamos na viatura eu, o Maj Braga e um policial do Níger, o major desembarcou da viatura para ir a uma agência de viagem para comprar sua passagem para o CTO no Brasil e nós ficamos na viatura por causa do ar condicionado pois do lado de fora a temperatura beirava os 40 graus. Foram uns 10 minutos de um profundo silêncio, pois como eu disse, eu não falava francês e nem ele inglês. Logicamente que eu ia aprendendo uma palavra, verbo ou expressão diariamente. Resumindo, no segundo semestre da missão eu já tava dando briefing em francês. Saí do zero para uma fluência aceitável no francês no período de um ano. Isso aconteceu comigo, com o Carrera e com o Cap Freitas.
Mas isso depende de sorte, ou de azar dependendo o ponto de vista, pois, por exemplo, o Cap Cidral da PMSC ao chegar na missão foi designado para a Border Unit, onde havia UNPOLs canadenses, do Sri Lanka, americanos e de Granada, ou seja, só falavam em inglês o dia todo. Logicamente o improvement dele foi bem maior que o meu. Esta é uma característica da MINUSTAH, você pode ser designado para uma unidade onde só se fala em inglês ou outra onde só se fala em francês. Os interessados em ir para o Haiti devem levar isso em consideração."
Abaixo podemos ver o vídeo de um briefing proferido pelo Major Agrício da PMDF referente a uma operação na Penitenciária Nacional. Enquanto ele fala em inglês, um UNPOL da Polícia Nacional francesa, Jean Pierre, faz a tradução para os UNPOLs francofônicos. Todo briefing para uma operação tinha que ser feito dessa maneira.
"Fiz 8 semestres no WIZARD antes de fazer as provas no COTER. Iniciei os estudos com outro objetivo, pois na época queria fazer as provas para o Itamaraty. A missão veio como consequência, motivado pelo Capitão Araújo, meu colega de turma, que foi para Kosovo. Quanto fiz as provas em Brasília em set de 2006 não tinha tido contato com a coleção campaign, a qual conheci após o concurso.
Acredito que ao chegar na missão meu inglês era de médio para baixo, o Carrera tá aí para provar. Durante o tempo de missão desenvolvi muito o listening e a escrita (foram muitos reports), mas não atingi o nível que esperava na conversação. Isso tem uma explicação.
Como a ONU considera a MINUSTAH como uma missão francofônica, todo o meu induction training foi em francês. Tiveram que colocar um intérprete sentado do meu lado em todas as aulas. O instrutor ia falando em francês e o haitiano ia traduzindo para o inglês pra mim. Imagina o transtorno.
Meu primeiro deployment foi para a Traffic and Circulation Unit a qual era composta por 06 UNPOLs (02 do Níger, só falavam francês; 01 Russo, sabia inglês mas só falava francês, 01 espanhol habilitado em francês, eu e o Maj Braga PMPA, que era fluente nos dois idiomas). Nos dois primeiros meses de missão, nas atividades de monitoramento (trabalhávamos todos os dias nas ruas em contato com os policiais haitianos e a população), como eu estava sempre com o Maj Braga, eu entrava mudo e saia calado, pois todas as conversações eram em francês. Nunca esqueço uma oportunidade em que estávamos na viatura eu, o Maj Braga e um policial do Níger, o major desembarcou da viatura para ir a uma agência de viagem para comprar sua passagem para o CTO no Brasil e nós ficamos na viatura por causa do ar condicionado pois do lado de fora a temperatura beirava os 40 graus. Foram uns 10 minutos de um profundo silêncio, pois como eu disse, eu não falava francês e nem ele inglês. Logicamente que eu ia aprendendo uma palavra, verbo ou expressão diariamente. Resumindo, no segundo semestre da missão eu já tava dando briefing em francês. Saí do zero para uma fluência aceitável no francês no período de um ano. Isso aconteceu comigo, com o Carrera e com o Cap Freitas.
Mas isso depende de sorte, ou de azar dependendo o ponto de vista, pois, por exemplo, o Cap Cidral da PMSC ao chegar na missão foi designado para a Border Unit, onde havia UNPOLs canadenses, do Sri Lanka, americanos e de Granada, ou seja, só falavam em inglês o dia todo. Logicamente o improvement dele foi bem maior que o meu. Esta é uma característica da MINUSTAH, você pode ser designado para uma unidade onde só se fala em inglês ou outra onde só se fala em francês. Os interessados em ir para o Haiti devem levar isso em consideração."
Abaixo podemos ver o vídeo de um briefing proferido pelo Major Agrício da PMDF referente a uma operação na Penitenciária Nacional. Enquanto ele fala em inglês, um UNPOL da Polícia Nacional francesa, Jean Pierre, faz a tradução para os UNPOLs francofônicos. Todo briefing para uma operação tinha que ser feito dessa maneira.
Um comentário:
No meu caso, como fui designado para Crowd Control Unit e todas as FPUs tem seus staff officers testados em inglês, meu improvement foi incrível, aprendi o frances de forma pragmática no dia a dia e com as aulas no IMTC.
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