segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Guiné Bissau: Nomeações de Chefes Militares causam reações diferentes na Europa e na África


Na semana que passou o Presidente da Guiné Bissau, Malam Bacai Sanhá (foto de Sanhá ao lado do Presidente Lula durante visita oficial ao Brasil no dia 25 de agosto deste ano), realizou nomeações de Militares para altos postos de comando. Os Nomeados foram o contra-almirante José Américo Bubo Na Tchuto para a função de chefe do Estado-Maior da Armada da Guiné-Bissau e do major-general Mamadú Turé para vice-chefe do Estado Maior General das Forças Armadas. A nomeação de Bubo Na Tchuto provocou reações diferentes em países da União Africana e na Europa. Podemos verificar isso nas publicações constantes no site do Jornal Angola Press e no site do Jornal Público de Portugal.
Site Angola Press (Texto original)
Luanda – Na semana que finda mereceram destaques no noticiário africano as nomeações pelo Presidente da Guiné-Bissau do contra almirante Bubo Na Tchuto para chefe do Estado Maior da Armada e do major- general Mamadú Turé para vice-chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, bem como a marcação da data da segunda volta das eleições na Guiné-Conakry.Com efeito, essas nomeações mereceram uma justificação por parte do Presidente da República explicando que a nomeação do contra-almirante Bubo Na Tchuto para a chefia do Estado-Maior da Armada teve como objectivo criar um clima de paz e estabilidade interna. Ainda sobre a Guiné-Bissau, o representante especial da União Africana (UA), o angolano Sebastião Isata, declarou-se "confiante e optimista" quanto aos esforços em curso, interna e externamente, para a estabilização política deste país da África Ocidental."Estamos a encarar com optimismo e confiança o evoluir da situação para uma verdadeira reconciliação de todos os filhos da Guiné", disse.

Site do jornal Público (texto original do jornalista Jorge Heitor)
UE apresenta-o como um "desestabilizador"
Almirante que Washington considera narcotraficante foi colocado à frente da Armada da Guiné-Bissau - 11.10.2010 - 12:50 Por Jorge Heitor
O Presidente Malam Bacai Sanhá nomeou o contra-almirante José Américo Bubo Na Tchuto chefe do Estado-Maior da Armada da Guiné-Bissau, mas a representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Catherine Ashton, lamentou-o profundamente.
Bacai Sanhá explicou ter recolocado Bubo Na Tchuto no lugar que já em tempos desempenhara por entender que isso poderá contribuir para a estabilidade de um país muito agitado. Mas a UE, por seu turno, destacou o “papel desestabilizador” de Bubo nos acontecimentos de 1 de Abril último, quando o general António Indjai o foi buscar às instalações das Nações Unidas onde se encontrava refugiado e juntos prenderam o chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, Zamora Induta.
“É uma tentativa do poder legítimo da Guiné-Bissau, do Governo e da Presidência da República, de criar um clima propício para a implementação da reforma do sector de defesa e segurança”, afirmou Malam Bacai Sanhá aos jornalistas, enquanto Catherine Ashton recordava que o oficial em causa se encontra sujeito a sanções por parte de entidades internacionais, designadamente norte-americanas, por se ter considerado que estava envolvido no narcotráfico que dilacera a vida da África Ocidental.
“A comunidade internacional vai compreender a nossa posição, como compreenderam sempre. Vai compreender a necessidade que nós temos de estabilizar este país e nós estaremos à altura de dar essas explicações”, disse o Presidente guineense, depois de haver recolocado Bubo no lugar que tivera até Agosto de 2008, quando foi acusado de actividades golpistas pelo então chefe do Estado-Maior General, general Tagme Na Waie, que viria a ser assassinado em 1 de Março do ano passado.
Na sequência das acusações de que tentaria procurar destituir o então Presidente João Bernardo “Nino” Vieira, Bubo Na Tchuto foi suspenso e fugiu para a Gâmbia, de onde depois saiu para se refugiar na representação da ONU em Bissau.
Durante o período em que ele se encontrou fugido, foram assassinados tanto Tagme Na Waie como o próprio “Nino” Vieira, numa série de crimes políticos a que a Guiné-Bissau tem vindo a assistir.
No dia 1 de Abril deste ano, Bubo Na Tchuto e o general António Indjai não só destituíram o almirante Zamora Induta da chefia do Estado-Maior General, como chegaram a prender, durante algumas horas, o primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior, líder do partido maioritário, o PAIGC.
País de arbitrariedades
Zamora Induta tem continuado detido, sem julgamento, se bem que nos últimos dias tenha sido anunciada a iminência da sua libertação, constantemente exigida pela UE, que não se conforma com uma série de arbitrariedades que se têm verificado na Guiné-Bissau e ficado impunes.
De acordo com as palavras da britânica Catherine Ashton, a recolocação de Bubo Na Tchuto à frente da Armada confirma, se necessário fosse, a militarização da política naquela antiga colónia portuguesa, onde nos últimos sete meses Presidente e Governo têm feito quase tudo o que é desejado por alguns oficiais generais.
Em Junho, o Tribunal Militar guineense arquivou as acusações de alegada tentativa de golpe de Estado que haviam sido formuladas contra Bubo Na Tchuto; e, a partir daí, ele começou a exigir que o colocassem de novo no Estado-Maior da Armada. Isto apesar de o departamento norte-americano do Tesouro o ter colocado na lista internacional de narcotraficantes.
O mesmo tribunal determinou na semana passada não haver razões para se manter por mais tempo a prisão preventiva do Almirante Zamora Induta, que, no entanto, deveria, segundo os juízes, ser obrigado a permanecer no país, de modo a esclarecer algumas das acusações que contra ele também têm vindo a ser feitas.
De acordo com uma carta atribuída ao Procurador-Geral da República, Amine Michel Saad, e divulgada pelo site Ditadura do Consenso, Induta teria dito o ano passado a um grupo de militares que o primeiro-ministro lhe dera ordens para mandar executar o Presidente Vieira.
No entanto, acusações tão graves como estas não são inéditas na Guiné-Bissau, sem que ninguém as desminta cabalmente ou consiga confirmar a sua veracidade, pois que o clima geral é desde há muito o de uma total impunidade.
Fonte: Sites AngolaPress e Público

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