segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

MINUSTAH: O Natal dos UNPOLs brasileiros

Bom, após escrever o post sobre as comemorações de final de ano nas operações de paz, recebi informações específicas sobre como foi o Natal de nossos amigos UNPOLs brasileiros em Porto Príncipe. E, logicamente, não poderia deixar de registrar a festa de natal organizada por eles em conjunto com UNPOLs canadenses e colombianos em um orfanato que abriga 45 crianças na periferia da capital Haitiana.
Como já escrevi no texto anterior, estas ações são voluntárias e implicam em dispensas temporárias do serviço por parte das chefias de Unidade às quais pertençam os UNPOLs. Através da sequência de fotos abaixo podemos ter uma idéia de como este dia foi especial para as crianças e para os UNPOLS. Nas duas primeiras fotos podemos ver a chegada ao orfanato e o momento em que o pessoal estava descarregando os presentes das viaturas. Na primeira foto estão o Capitão Tadeu, da Polícia Militar do Rio de Janeiro - PMERJ, e o Tenente Couto, da Polícia Militar de Pernambuco - PMPE. Já na segunda vemos o Capitão Honda, da Polícia Militar do Amazonas - PMAM.
Durante a festa, as crianças confraternizaram com os policiais, participaram de brincadeiras e receberam de presente brinquedos e livros infantis. Para completar a festa, foi servido um lanche com cachorro-quente, salgadinhos, doces e suco. Podemos visualizar alguns momentos da festa nas fotos seguintes:

A seguir, vemos o Capitão Honda, o Tenente Couto e o Capitão Tadeu juntamente com um UNPOL colombiano e uma UNPOL canadense em uma foto com a madre coordenadora do orfanato.

As fotos seguintes registram dois momentos de confraternização dos brasileiros com as crianças haitianas.


Para finalizar, como forma de agradecimento, as crianças prepararam cartões de Natal que foram entregues aos UNPOLs. Na foto abaixo vemos o Tenente Couto com o seu cartão de natal, o qual acredito ter um grande valor sentimental para ele, visto que o Couto estava realizando uma das últimas atividades na MINUSTAH, em decorrência da conclusão do seu tempo de serviço na missão no dia 26 de dezembro.O fato de estar longe de casa em datas como estas, carregadas de forte emoção, faz com que ações como a que os UNPOLs brasileiros participaram no último final de semana em Porto Príncipe produzam uma grande sensação de alegria para contrastar com os problemas enfrentados no dia-a-dia. Esta alegria podemos ver nos sorrisos estampados nos rostos tanto dos UNPOLs quanto das crianças e coordenadores do orfanato. O comentário que o Tenente Coronel Braga, da Polícia Militar do Pará, fez no post anterior sintetiza um pouco este sentimento..."Passar o natal longe da família é duro....Mas a experiência de ajudar alguém compensa de certa forma". O T Cel Braga é veterano da missão no Haiti e fala com experiência sobre o assunto, pois chegou a Porto Príncipe no dia 19 de Dezembro de 2006 e, logo no primeiro final de semana de missão, já experimentou o sentimento de passar um natal longe de casa.

Operações de Paz: Celebrações de Natal e Ano Novo

Durante esta semana os programas jornalísticos televisivos, além das notícias do dia-a-dia, deram ênfase aos preparativos dos brasileiros para as comemorações de Natal e Final de Ano. Vimos matérias tanto sobre a fé religiosa quanto sobre a corrida consumista em busca dos presentes e lembrancinhas natalinas. Na manhã do dia 24 de dezembro me surpreendi com uma reportagem sobre um shopping center em São Paulo que "virou" a noite com todas as lojas abertas e muita gente fazendo compras durante a madrugada.
Foi com este espírito que resolvi escrever um texto sobre como são comemoradas estas datas pelos integrantes de uma missão de Paz. Bom, o primeiro "problema" é que os integrantes da United Police – UNPOL - trabalham todos os dias. Isto mesmo, de domingo à domingo, sem folga. Os dias 24 e 25 de dezembro, assim como os dias 31 de dezembro e 01 de janeiro são tratados como os demais dias, isto é, de muito trabalho. Ou você está de folga porque programou o seu CTO (Compensatory Time Off) para este período ou então está trabalhando. Pode ser no expediente, das 08 horas às 17 horas, ou em alguma escala dividida em turnos de serviço durante as 24 horas do dia.
Soma-se a isso o fato de que o Natal, por exemplo, é uma comemoração tradicional do Ocidente. E em uma Missão de Paz você convive diariamente com policiais oriundos do chamado "Oriente". Mesmo no ocidente encontramos muitos países muçulmanos, como no caso de vários países do continente africano. Recordo de uma situação em que estava conversando com um policial do Niger que integrava a minha Unidade (Traffic and Circulation Unit) em Porto Príncipe e ele me questionou o que estávamos comemorando no Natal. Eu prontamente respondi que comemorávamos o nascimento de Jesus Cristo, o Filho de Deus. Ele me retrucou com um leve sorriso no rosto..."O Filho de Deus?" E continuou dizendo...."não pode ser, ele é um dos profetas, assim como Maomé, ao qual Deus revelou o Evangelho, não seu filho...". O certo é que, respeitada as diferenças religiosas e culturais, o período de Natal e de celebração do Ano Novo se torna especial para alguns UNPOLs. É comum contingentes inteiros ou grupos mesclados de diferentes nacionalidades prepararem festas ou distribuírem presentes em comunidades carentes, asilos ou orfanatos. Isto aconteceu quando eu estava no Haiti, conforme texto que publiquei ano passado no dia 25 de dezembro sob o título “O Natal em um orfanato de Porto Príncipe”(clique sobre o título para ler o texto na íntegra). Este ano verifiquei que iniciativas semelhantes foram tomadas no Timor Leste e no Haiti. No Timor os UNPOLs integrantes do contingente de Portugal distribuíram presentes em orfanatos e entidades de caridade. Segundo o site oficial da UNMIT, foram cerca de 8 toneladas de donativos e presentes que foram enviados de Portugal para que fossem distribuídos pelos policiais portugueses. Na foto abaixo vemos um destes momentos, onde um UNPOL português confraterniza com crianças de um orfanato de Dili.
Já no Haiti, integrantes do contingente UNPOL canadense fizeram a distribuição de brinquedos, doces e livros infantis em um campo de desabrigados localizado perto do bairro de Belvil, na capital Porto Príncipe. Foram cerca de 600 brinquedos arrecadados no Canadá entre os familiares e amigos dos policiais canadenses, os quais foram distribuídos entre crianças de 3 a 12 anos. A distribuição dos presentes ocorreu na semana passada, 21 dezembro, conforme podemos ver nas fotos abaixo.

Por fim, destaco que estas ações são tomadas de maneira voluntária pelos UNPOLs não só no Natal, mas durante o ano inteiro, complementando as ações assistênciais dos vários organismos internacionais que se encontram trabalhando nestes países.

Fonte: sites da UNMIT e MINUSTAH

Fotos: Logan Abassi (MINUSTAH) e Martine Perret (UNMIT)

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

MINUSTAH: End of Mission do Tenente PMPE Couto

No próximo domingo (26) o 1º Tenente Ricardo Phillipe Couto de Araújo, da Polícia Militar do Estado de Pernambuco, deverá iniciar sua viagem de regresso ao Brasil após cumprir 12 meses de serviço na Missão de Paz da ONU no Haiti - MINUSTAH. Durante este período pudemos acompanhar, através do blog, as atividades do Tenente Couto em Porto Príncipe e constatamos, mesmo à distância, que esse Oficial soube muito bem representar sua corporação policial, seu Estado e o Brasil perante a comunidade de nações que integram a missão no Haiti.
Com certeza estes meses, passados em terras caribenhas, jamais sairão da memória do Tenente Couto. O seu trabalho já foi reconhecido e documentado através de um elogio feito pelo Comandante do Contingente Policial brasileiro no Haiti, Capitão Algenor, da Polícia Militar do Estado do Amazonas, o qual foi enviado ao COTER e ao comando da PMPE.
Como forma de também prestar nossas homenagens a este valoroso policial brasileiro, faremos abaixo um breve relato da estada do Tenente Couto no Haiti.

O INÍCIO

Ao chegar a Porto Príncipe em dezembro de 2009, o Tenente Couto ainda teve oportunidade de conviver por alguns dias com o Capitão Bassalo, da Polícia Militar do Estado do Pará, e o Tenente Heberton, da Polícia Militar do Distrito Federal, os quais estavam concluindo seu tour of duty na MINUSTAH. Na foto abaixo podemos ver, da esquerda para a direita, o Capitão Bassalo, o Tenente Heberton, o Tenente Couto e o Capitão Algenor. O registro foi feito momentos antes de se dirigirem ao aeroporto.

Logo após sua chegada, em virtude da sua qualificação técnica em cinofilia, o Tenente Couto foi designado para instalar e comandar a primeira unidade de policiamento com cães da MINUSTAH, a K9 Unit, conforme relatamos em 06 de janeiro de 2010. O trabalho incluiu o treinamento dos policiais haitianos para realizarem atividades com cães farejadores no aeroporto Internacional Toussaint Louverture, conforme podemos ver nas fotos abaixo. A segunda foto mostra a equipe da K9 Unit formada pelo Tenente Couto, um UNPOL americano e dois policias haitianos. Já a terceira foto mostra os policiais haitianos em atividade vistoriando bagagens no terminal de desembarque de passageiros da empresa America Airlines:

O TERREMOTO

Com pouco de tempo de missão o Tenente Couto enfrentou o maior de seus desafios: o terremoto de 12 de janeiro de 2010. Muito embora estivesse próximo ao aeroporto no momento do terremoto, o Tenente Couto integrou uma das primeiras equipes a chegar no Hotel Christoper, a então sede da MINUSTAH, necessitando enfrentar parte do deslocamento à pé, pois os destroços impediam o avanço das viaturas. Ao chegar no que restou do imponente prédio-sede da ONU, o Couto participou ativamente do resgate de vítimas dos escombros, em especial do Tenente Coronel Alexandre, do Exército Brasileiro, integrante do Estado Maior do Force Commander. Com especialização em ações de resgate, o Tenente Couto tomou a frente das ações e permaneceu durante aproximadamente 4 horas e meia sob os destroços, a três metros da superfície, até o salvamento do Oficial do EB, mesmo com a ameaça de ser soterrado em virtude dos tremores secundários que se sucederam, conforme a foto abaixo:Além da sede da MINUSTAH, o Tenente Couto participou ativamente nos trabalhos de resgate nas ruínas do Hotel Montana, residência oficial de muitos membros do Alto Escalão da Missão. Neste período, o Ten Couto manteve familiares e amigos informados sobre os acontecimentos através do envio de relatos a este blog e ao blog do Capitão Carrera. Publicamos estes relatos nos dias 18 de janeiro e 04 de fevereiro. Bem como publicamos em 19 de janeiro a informação e o link de que o Ten Couto aparecia em vídeo postado no Youtube auxiliando no resgaste do último sobrevivente dos escombros do Hotel Cristhoper.

O TRABALHO UNPOL

Passada a fase de resgates, a preocupação dos integrantes da UNPOL passou a ser a recaptura de mais de 4.000 apenados que fugiram da Penitenciária Nacional no dia do terremoto, bem como a manutenção da tranquilidade e segurança nos inúmeros acampamentos de desabrigados que surgiram em Porto Príncipe. Como podemos ver nas fotos seguintes, as quais foram tiradas em pontos distintos do bairro de Bel Air, sendo a primeira durante uma patrulha noturna e a segunda, em frente aos destroços da Catedral de Porto Príncipe, os trabalhos foram intensos e sob condições precárias:



No período que se seguiu ao desastre, o Haiti foi visitado por inúmeras autoridades e artistas, todos em missão humanitária. Na sua grande maioria, coube ao Tenente Couto e aos demais policiais brasileiros integrarem as equipes de segurança dessas pessoas. Como no caso das fotos abaixo, onde podemos ver o Capitão PMERJ Tadeu e o Tenente Couto junto à cantora Cristina Aguillera em frente ao Aeroporto Internacional Toussaint Louverture. Ou a segunda foto onde ambos aparecem ao lado do ator Sean Penn no Brazilian Battalion - BRABATT.
Outra experiência importante foi o contato aproximado, durante todo o ano, com integrantes da diplomacia brasileira, como no caso da foto abaixo, onde vemos todos os UNPOLs do Contingente Policial Brasileiro (Cap Algenor, Cap Honda, Cap Tadeu e Tenente Couto) junto ao Embaixador Igor Kipman.A proximidade com os militares brasileiros integrantes do BRABATT possibilitou que a atividade física, necessária para combater o stress do dia-a-dia, não fosse prejudicada no transcorrer do ano. Sempre que o trabalho permitia, o tenente Couto e os demais brasileiros (na foto está o Capitão Honda) utilizavam a academia "Brasil" instalada no interior do Batalhão de Infantaria de Paz do Brasil em Porto Príncipe.

O ano foi de intenso trabalho para os policiais brasileiros no Haiti, a convivência diuturna com policiais oriundos de mais de 40 países, participando de operações policiais no terreno, reuniões de trabalho, treinamentos e confraternizações, possibilitou ao Tenente Couto obter uma experiência incomensurável, tanto no campo pessoal, quanto no cultural e no profissional. O trabalho policial foi encerrado com uma missão muito importante: participar do planejamento e execução da segurança nas eleições presidenciais haitanas (foto - Ten Couto em pé à esquerda) ocorridas no final do mês passado e que se encontram em fase de preparação para o segundo turno que ocorrerá em janeiro de 2011.


A MEDALHA

Por fim, estes 12 meses de árduo trabalho na Missão de Paz da ONU no Haiti foi coroado com o recebimento da Medalha das Nações Unidas "In The Service of Peace" na maior cerimônia de Medal Parade realizada na MINUSTAH. Foram aproximadamente 1300 militares brasileiros agraciados e mais os quatro UNPOLs do nosso contingente policial. Na foto abaixo podemos ver os Oficiais brasileiros (da esq. para dir. - Cap Honda, Cap Tadeu e Ten Couto) perfilados juntos aos militares no pátio de formaturas do BRABATT.

Embora este breve relato das atividades do Tenente Couto durante os 12 meses em que esteve no Haiti não consiga abranger todas as suas realizações, acredito que sirva para que os leitores tenham uma idéia das várias situações que este Oficial vivenciou neste ano de 2010. Mesmo que ainda não o conheça pessoalmente, mas em virtude dos textos que nos enviou e do sentimento do dever cumprido que ele demonstra, acredito que o Couto tenha sido picado pela "mosca azul" das missões de paz e já esteja planejando, para o desespero dos familiares (rsrsrsrs....), qual a próxima Peacekeeping Operations que irá integrar.

Parabéns Couto, por todas as tuas vitórias em nome da paz!

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Costa do Marfim: Conselho de Segurança renova mandato da UNOCI

O Conselho de Segurança da ONU reuniu-se ontem (20) em Nova York e aprovou por unanimidade a renovação do mandato da Missão de Paz da ONU na Costa do Marfim - UNOCI (United Nations Operation in Côte d’Ivoire) . Esta foi a resposta do Secretário Geral, Ban Ki Moon, à determinação de retirada imediata das tropas internacionais do território marfinense imposta pelo atual Presidente Laurent Gbagbo no último sábado, sob alegação de que a ONU estaria intervindo em questões internas do país.
A Resolução nº 1962/2010 autoriza a extensão do mandato da UNOCI até o dia 30 de junho de 2011, bem como autoriza a permanência de tropas francesas pelo mesmo período. Entre outros aspectos do referido documento, podemos destacar a autorização para o envio de mais 500 peacekeepers até 31 de março de 2011, os quais serão somados aos 8.650 Boinas Azuis (militares e policiais) já existentes. O efetivo total da UNOCI será reforçado, ainda, pela transferência temporária de tropas da ONU integrantes da Missão de Paz na Libéria - UNMIL, sendo que o Conselho de Segurança autorizou o deslocamento de até 03 companhias de infantaria e 01 unidade de aviação, abrindo a possibilidade de aumentar estes números, caso seja necessário. Abaixo a transcrição de parte da Resolução nº 1962.
"Condemning in the strongest possible terms the attempts to usurp the will of the people and undermine the integrity of the electoral process, the Security Council this morning renewed the mandate of the United Nations Operation in Côte d’Ivoire (UNOCI) until 30 June 2011 and urged all the Ivorian parties and stakeholders to respect the will of the people and the outcome of the election in view of the recognition by the Economic Community of West African States (ECOWAS) and the African Union of Alassane Dramane Ouattara as the newly elected President of Côte d’Ivoire.
Unanimously adopting resolution 1962 (2010) under Chapter VII of the United Nations Charter, the Council decided to maintain UNOCI’s authorized combined military and police strength at 8,650 and extended until 31 March 2011 the temporary deployment of up to 500 additional personnel.
Also by the terms of the resolution, the Council extended authorization by up to four additional weeks the temporary redeployment from the United Nations Mission in Liberia (UNMIL) to UNOCI of a maximum of three infantry companies and one aviation unit, and affirmed its intention to authorize redeployment of further troops, as needed, between UNMIL and UNOCI on a temporary basis. It further extended until 30 June 2011 its authorization provided to the French Forces in order to support UNOCI
."
A situação nas ruas de Abidjan, bem como em várias cidades do país, como a capital Yamoussoukro, continua tensa com embates entre os partidários de Gbagbo e Ouattara. Hoje simpatizantes de Alasssane Ouattara, candidato que a ONU e a comunidade internacional reconhecem como vencedor nas eleições do dia 28 de novembro, fizeram protestos pelo país incitando a população à desobediência civil. A foto abaixo mostra uma dessas manifestações em Abidijan.

O Hotel Golf em Abidjan, onde Ouattara instalou um gabinete de governo paralelo, permanece sob segurança de tropas da ONU, como podemos ver nas fotos abaixo. Na primeira visualizamos policiais da FPU (Batalhão de Choque) do Paquistão posicionados em linha de defesa na avenida em frente ao Hotel. Na segunda podemos ver policiais da FPU da Jordânia posicionados com seus APCs (Armour Personnel Carrier)em outro ponto do entorno do Hotel. Por fim, na terceira foto podemos ver um militar togolês em uma barricada com sacos de areia em frente à entrada principal do Hotel Golf.

Fonte: DPKO

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Costa do Marfim: Presidente expulsa ONU do país

O Presidente da Costa do Marfim, Laurent Gbagbo, exigiu que a ONU retire imediatamente suas tropas do território marfinense. A exigência, no último sábado, foi feita através da porta-voz da presidência, Jacqueline Oble, em comunicado transmitido pela rede de TV estatal. Segundo Oble, a ONU e a França estariam conspirando contra o governo ao apoiarem rebeldes e ressaltou que ambas “interferiram seriamente nos assuntos internos da Costa do Marfim”.
Em comunicado Oficial emitido na noite de sábado, O Secretário Geral da ONU, Ban Ki Moon, reiterou que a ONU irá permanecer no país e cumprir o seu mandato. O comunicado dizia que “A missão da ONU, UNOCI, completará seu mandato e seguirá monitorando e documentando qualquer violação aos direitos humanos, incitação ao ódio e à violência, assim como os ataques contra as forças de paz da ONU”. Horas antes, patrulhas da UNOCI foram atacadas com tiros ao chegar na sede da ONU em Abidjan, sendo que não houve relato de feridos. Sobre estes ataques aos capacetes azuis, o comunicado ressaltou que “Ban está profundamente preocupado com os ataques contra uma patrulha das Nações Unidas e sentinelas da ONUCI executados por elementos das forças da Costa do Marfim, ao que parece as forças leais a Gbagbo. Haverá consequências para aqueles que cometeram ou planejaram tais ações ou o façam no futuro.”


ENTENDA O PROBLEMA
Laurent Gbagbo se tornou Presidente da Costa do Marfim em 2000, após eleições marcadas por polêmicas. Em 2002, após tentativa frustrada de golpe de Estado, o país se dividiu entre o sul, leal ao Gbagbo, e o norte, sob comando dos rebeldes.
O mandato de Gbagbo deveria ter sido concluído em 2005, no entanto as eleições presidenciais foram adiadas seis vezes, até que se realizasse o primeiro turno em 31 de outubro desde ano. Houve a necessidade de realização do segundo turno em 28 de novembro, sob supervisão da ONU, a quem caberia certificar o resultado final. A contagem dos votos apontou a vitória do candidato da oposição, Alassane Ouattara, com 54,1% dos votos. Este resultado foi reconhecido oficialmente pelo Representante do Secretário Geral da ONU – SRSG – na UNOCI, Choi Young-Jin, bem como pela comunidade internacional.
No entanto, Laurent Gbagbo se recusou a reconhecer o resultado, alegando que as eleições foram fraudadas pelos rebeldes que dominam o norte do país desde a guerra civil de 2002, solicitando ao Conselho Constitucional, órgão da Justiça comandando por um de seus aliados, que revisasse os votos. O pedido de revisão foi analisado e resultou na anulação de cerca de 500 mil votos dados à Ouattara, fazendo com que Gbagbo passasse a ser o vencedor com 51% dos votos. A decisão da Justiça da Costa do Marfim provocou reações da comunidade internacional, que pediu que Gbagbo aceitasse o resultado das urnas. Sem ouvir os apelos, o candidato tomou posse para o novo mandato de cinco anos. Ao mesmo tempo, Ouattarra também fez o juramento constitucional e se recusa a aceitar a revisão do resultado.
Em consequência desta controvérsia, ambos os candidatos se proclamaram vencedores. No dia 04 de dezembro, Gbagbo tomou posse em cerimônia oficial transmitida pela TV Estatal (foto esquerda) e Ouattara assumiu a presidência em cerimônia realizada no Hotel Golf com a presença de seus partidários (foto direita).
A situação de ter um presidente de fato (Gbagbo) e outro eleito (Ouattara), o qual é reconhecido pela ONU e pela comunidade internacional, fez com que as últimas duas semanas fossem de extrema tensão na capitão Abidjan. As tropas da ONU tiveram que reforçar a segurança em torno do Hotel Golf, onde está sediado o quartel general de Ouattara, como mostra a primeira foto (Sia Kambou - AFP). Ocorreram, ainda, enfrentamentos entre forças leais à Gbagbo e partidários de Ouattara na região próxima ao hotel. Militares e policiais leais ao atual presidente, Gbagbo, não descartam realizar uma açao de tomada do prédio, motivo pelo qual a tensão aumenta com o passar dos dias.

Já a segunda foto (Schalk van Zuydan - AP) e a terceira (Thierry Gouegnon - Reuters) mostram as tropas da ONU estacionadas no entorno do hotel Golf.


A tensão tomou conta das ruas de Abidjan, onde partidários de Ouattara protestaram contra o atual governo e pediram para que o líder oposicionista fosse empossado como novo presidente. Policiais e militares leais ao governo reprimiram os protestos com violência, como mostras a foto abaixo (Issouf Sanogo - AFP) e a seguinte:

A Alta Comissária da ONU para os direitos humanos, Navi Pillay, declarou ontem que "Depois dos violentos acontecimentos de quinta-feira (16) que causaram dezenas de mortos, centenas de partidários do Presidente eleito Alassane Ouattara e parentes dos mesmos foram raptados, particularmente durante a noite".
Segundo o Primeiro-Ministro designado por Ouattara, Guillaume Soro, antigo líder da guerrilha vulgarmente conhecida por Forças Novas (FN), disse ser preciso que a comunidade internacional se conscietize de que está perante “uma verdadeira loucura assassina” por parte de Gbagbo e que advertiu que a Costa do Marfim pode se transformar em uma segunda "Ruanda", em referência ao genocídio de 800.000 ruandenses em 1994.

SANÇÕES INTERNACIONAIS
O fato de o atual presidente recusar-se a deixar o cargo já gerou várias sanções no campo diplomático contra a GbaGbo. A União Africana suspendeu a Costa do Marfim por tempo indeterminado até que Alessane Ouattara assuma o poder. O Presidente dos EUA, em carta enviada a Gbabo, enfatizou que poderão ser adotadas sanções contra a Costa do Marfim caso ele continue com o intento de não reconhecer o resultado das urnas. A União Européia, por sua vez, em reunião realizada com a presença de 27 representantes de Estado, decidiu suspender o visto de Gbagbo para todo o território europeu. Esta sanção se estende a 18 colaboradores e familiares do atual presidente da Costa do Marfim. Além disso, deu prazo até o dia de ontem para que Gbagbo reconhecesse Ouattara com vencedor da eleição.
FUGA DA POPULAÇÃO
O clima de tensão ao qual está submetida a população marfinense, com a ameaça de uma nova guerra civil, já reflete nos países com os quais a Costa do Marfim faz fronteira. Segundo o ACNUR, órgão das Nações Unidas que trata das questões envolvendo refugiados, em nota Oficial emitida no dia 10 de dezembro por seu porta-voz, Andrej Mahecic, até aquela data cerca de 2.000 pessoas, na maioria crianças e mulheres, já haviam deixado o país em direção à Libéria e à Guiné Conacky. Cerca de 1.700 cruzaram para o condado de Nimba, no nordeste da Libéria, enquanto outras 200 chegaram à região de Nzerekore, na Guiné, após dois dias de caminhada.
Em entrevista ao Jornal Diário Catarinense no último sábado (18), a Embaixadora do Brasil na Costa do Marfim, Maria Auxiliadora Figueiredo, declarou que a situação é tensa e que os cerca de 100 brasileiros que vivem no país foram orientados a não sair de casa. Segundo a Embaixadora, "o governo legítimo convocou manifestações para retomar a TV estatal. O governo "de fato" quer preservar a emissora e outras instituições. É uma situação tensa. É perigoso sair à rua".
Com relação à possibilidade de uma saída diplomática para a crise, a Embaixadora Maria Auxiliadora declarou que "O governo "de fato" se diz disposto a dialogar, mas é um diálogo que parte do pressuposto de que Laurent Gbagbo seja reconhecido como presidente".
A ONU e a comunidade internacional tem uma excelente oportunidade para desfazer a imagem negativa deixada pela inércia inicial no caso de Ruanda, o qual resultou na morte de mais de 800.000 pessoas. No caso da Costa do Marfim a ação deve ser enérgica e rápida a fim de evitar que uma nova guerra civil tome conta do país, pois como sabemos, em qualquer situação bélica é a população civil quem sofre as maiores consequências.
Não temos UNPOLs brasileiros na Costa do Marfim, no entanto, segundo o site Forças Terrestres, o Brasil participa da UNOCI , desde outubro de 2003, com sete militares, sendo um da Marinha; um do Exército e um da Força Aérea no Estado-Maior da força de Paz, e três do Exército e um da Marinha como observadores militares - MilOb.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Timor Leste: Capitão Araújo assume função de instrutor da PNTL

O Capitão Rogério Araújo de Souza (APM/RS 1997), da Brigada Militar do Estado do Rio Grande do Sul, é um dos integrantes do atual contingente policial brasileiro na Missão de Paz da ONU no Timor Leste – UNMIT. Assim como o Capitão Rodrigo Campos da PMDF, o Capitão Araújo está em sua segunda Missão de Paz. No entanto, a mudança foi radical para este Oficial da Brigada Militar, pois o Capitão Araújo experimentou o frio congelante de Kosovo em 2006 (foto) e agora enfrenta o calor médio de 40° C em Dili, Capital do Timor Leste, conforme podemos verificar na foto tirada do painel de uma viatura da ONU, cujo visor indica temperatura externa de 45° C às 11:59 da manhã.

De certa forma sei o que ele está passando, pois quando cheguei ao Haiti em junho de 2007, deixei para trás 5°C no início do inverno gaúcho e encontrei 42° C no dia seguinte em Porto Príncipe, capital Haitiana. Nos primeiros dias eu suava até em pequenos deslocamentos, ou mesmo protegido à sombra de uma árvore ou marquise, pois o próprio ar que respirávamos era quente. Com o passar dos dias o corpo vai se acostumando.
Mas voltando à história do Capitão Araújo em sua segunda Missão de Paz, da mesma forma que a maioria dos UNPOLs, sua primeira designação foi para uma unidade de patrulhamento (foto), mais especificamente no distrito de Comoro, onde permaneceu por cerca de 45 dias.

Após este período inicial, surgiu a possibilidade de trabalhar na unidade denominada de UNPOL Task Force. O Capitão Araújo se inscreveu para o processo seletivo e, após análise de seu currículo e de ser submetido a uma entrevista, foi aprovado. A UNPOL Task Force Unit é composta por 11 UNPOLs (além do Cap Araújo são 02 croatas, 01 egípcio, 01 australiano, 02 portugueses, 02 filipinos, 01 romeno e 01 ucraniano), todos tendo em comum o fato de já terem integrado unidades especiais em seus países de origem. O Capitão Araújo é oriundo do 1º Batalhão de Operações Especiais – 1º BOE – de Porto Alegre, sendo um dos Oficiais especializados em ocorrências com reféns, atuando como negociador, sendo, também, instrutor de tiro da corporação.
A função principal desta unidade UNPOL é a de acompanhar a Task Force da Polícia Nacional do Timor Leste – PNTL (espécie de Batalhão de Choque ou de Operações Especiais) o qual recebe a denominação de Batalhão de Ordem Pública, com a sigla BOP(foto).

O BOP possui 03 equipes de aproximadamente 25 policiais, e atuam em apoio ao policiamento ostensivo nas situações que envolvam ocorrências de maior vulto. O serviço dos UNPOLs que os acompanham é desenvolvido em revezamento nos turnos de 23h-8h, 8h - 16h, 16h -23h.
Em algumas oportunidades os integrantes da UNPOL Task Force recebem a missão de treinar os policiais do BOP no interior do País, como no caso das fotos abaixo onde foram registrados momentos do treinamento realizado em Liquica, distante 30 km de Díli. Na primeira foto (esq. para dir.) podemos ver a equipe de instrutores composta pelo Policial Timorense Raul, UNPOL Português Antonio, Capitão Araújo e UNPOL filipino Reynaldo. Nas fotos seguintes podemos ver o Capitão Araújo em parte do treinamento oferecido aos policiais timorenses, o qual incluiu Controle de Distúrbios Civis - CDC, busca em residências, segurança VIP, instrução de Pistola Glock 19, abordagem de pessoas e veículos, uso de bastão expansivo, torções, condução de presos e utilização correta da algema.


Desejo sucesso ao Capitão Araújo, meu colega de turma da APM/RS, grande incentivador e principal responsável por eu ter me motivado a participar do processo seletivo do COTER que possibilitou que eu integrasse a MINUSTAH de junho de 2007 à junho de 2008.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Sudão: Capitão Emerson PMSC contribui com reportagem da Revista Época

O jornalista José Antonio Lima, repórter da Revista Época Online, publicou ontem uma reportagem sob o título "Sudão: a próxima tragédia da África?". O texto é muito elucidativo sobre a situação atual do Sudão e as perspectivas internacionais para a situação pós-referendo, previsto para o próximo dia 09 de janeiro de 2011, que decidirá sobre a separação do sul, de população majoritariamente negra e cristã, em relação ao norte do país, de população árabe e muçulmana.
A reportagem contou com preciosa contribuição do Capitão Emerson Fernades, da Polícia Militar de Santa Catarina-PMSC, o qual integra atualmente o efetivo da UNPOL na Missão de Paz da ONU no Sudão - UNMIS, mais especificamente na região de Wau.
Confira a reportagem na íntegra no site Época Online.

Capitão PMDF Rodrigo Campos: Breve resumo de sua 1ª estada na UNMIT em 2008

O Capitão Rodrigo Camargo Campos, da Polícia Militar do Distrito Federal - PMDF, é um dos atuais integrantes do contingente UNPOL brasileiro na Missão de Paz da ONU no Timor Leste – UNMIT. A adaptação ao ambiente da missão, aos colegas policiais internacionais, ao calor e ao idioma não foram obstáculos para este Oficial brasileiro, tendo vista que, na realidade, este é o seu segundo tour of duty naquele país do sudeste asiático.
Em sua primeira Missão de Paz na UNMIT, iniciada em 28 de abril de 2008, o Capitão Rodrigo Campos foi inicialmente designado para trabalhar como patrulheiro. As atividades principais desta função da UNPOL eram o atendimento e registro de ocorrências policiais, a realização de check points, bem como o patrulhamento nas ruas de Dili, conforme as fotos abaixo.
Este período inicial foi de grande proveito para o referido oficial, pois a atividade desenvolvida lhe oportunizou conhecer as características e o modo de atuação de policiais de diversas nacionalidades e continentes. O convívio diário com esses UNPOLs (fotos) possibilitou angariar o conhecimento e a experiência necessária para a função que passaria a exercer na sequência da missão.
Nos sessenta dias em que esteve patrulhando as ruas da capital timorense, o Capitão Rodrigo Campos aproveitou para ter um contato mais aproximado com o povo do Timor, conhecendo sua cultura e costumes, bem como verificando as dificuldades enfrentadas no dia-a-dia de um povo que luta para se reerguer após um período de dominação estrangeira.

A partir do terceiro mês de missão, em reconhecimento ao bom serviço prestado, bem como pela qualificação técnica do Capitão Rodrigo Campos, ele passou a trabalhar no Setor de Administração de Pessoal da UNMIT. Podemos dizer que, em se tratando de efetivo, este setor é o centro nervoso da missão, não só no Timor Leste, mas em todas as Missões de Paz da ONU. Entre suas atribuições encontramos as seguintes: é a responsável pelo check-in e check-out dos UNPOLs (procedimentos de recepção e integração do policial à missão e seu desligamento), designações e transferência de unidades, dispensas diversas (Compensatory Time Off - CTO, Annual Leave- AL, Sick Leave - SL, Compassionate Leave - CL) , autorização de viagens dentro e fora do Timor (UN flight books), preparar o Montly Attendance de aproximadamente 1500 policiais (entre UNPOL e Formed Police Units - FPU) , análise dos requerimentos e cálculo do saldo de folgas previstas, preparo, análise e instrução de processos de reembolso dentre diversas outras funções.

Por fim, o Capitão Rodrigo Campos desempenhou uma das funções que eu reputo das mais gratificantes para quem está servindo em uma Missão de Paz, integrar a equipe responsável pela semana inicial de treinamentos aos novos UNPOLs que chegam na missão: o Induction Training. É uma função gratificante porque você acaba conhecendo todos os UNPOLs de diferentes nacionalidades que chegam à missão e, por outro lado, você passa a ser conhecido e respeitado como profissional por todos eles, visto que a competência e qualificação técnica, como eu já disse, são requisitos fundamentais para integrar esta equipe. As fotos abaixo mostram algumas destas palestras ministradas pelo Capitão Rodrigo Campos, sendo que as duas primeiras mostram um contingente de policiais chineses.

Já as fotos seguintes mostram palestras para turmas mistas de UNPOL, visto que os policiais ao chegarem na missão são imediatamente submetidos ao Induction Training e, não raras vezes, são incluídos em turmas em andamento. Isto aconteceu comigo ao chegar no Haiti em junho de 2007, eu era o único brasileiro chegando na missão e fui incluído em uma turma de oito Guardias Civis espanhóis que já estava no terceiro dia de instrução. Ao término das instruções para os espanhóis eu permaneci sozinho mais dois dias a fim de concluir as aulas que já haviam sido ministradas quando da minha chegada.

O Capitão Rodrigo Campos trabalhou dez meses na Registry - CTO Unit e, nos últimos 5 meses de missão, em virtude de seu comprometimento com o trabalho e respeitabilidade que angariou do comando da UNMIT, desempenhou a função de comandante (Team Leader) da unidade. Este brilhante Oficial da PMDF contribuiu, em sua primeira estada no Timor Leste, para elevar o nome do Brasil e de sua corporação entre a comunidade de nações que integram a missão.

Com certeza a experiência adquirida em seu primeiro tour of duty no Timor Leste será um diferencial de qualidade e experiência para que este policial militar brasileiro obtenha o sucesso esperado nesta segunda Missão de Paz na UNMIT.