Na mesma edição de ontem do Jornal Zero Hora outra matéria tratou de informações tornadas públicas pelo site Wikileaks, através das quais se pode ter uma idéia do pensamento do governo americano sobre as relações diplomáticas brasileiras no Oriente Médio. Telegramas enviados a Washington pela Embaixada Norte-Americana em Brasília, no período de abril de 2004 a dezembro de 2009, trataram com desprezo as iniciativas brasileiras, caracterizando a política externa do governo Lula para o Oriente Médio como "mão pesada", "desajeitada", cheia de "generalidades anódinas" e "sem profundidade". Em Julho de 2008, o Embaixador Americano Clifford Sobel enviou telegrama a Washington onde escreveu que " até agora, as iniciativas do Brasil para o Oriente Médio são, na melhor das hipóteses, desajeitadas, e as declarações do governo brasileiro sobre questões-chave para a região atrapalham as negociações". Outro telegrama descreve um diálogo entre o Embaixador americano e o então Chefe de Gabinete do Ministro Celso Amorim, Antônio Patriota, atual Chanceler brasileiro. No diálogo Sobel teria pedido a Patriota que o Brasil conversasse com os EUA sobre suas iniciativas para o Oriente Médio, ao que Patriota teria respondido "o Brasil não precisa de permissão dos EUA" para conduzir sua política externa.
Esta questão sobre a reformulação do Conselho de Segurança, atualmente engavetada na ONU, é um complexo jogo de xadrez que somente de tempos em tempos se executam alguns movimentos. Exemplo disso foi o discurso proferido pelo Ministro das Relações Exteriores da Grã-Bretanha, William Hague, em 10 de novembro de 2010, no qual o governo inglês abriu seu voto favorável ao ingresso do Brasil no Conselho de Segurança como membro permanente. O Ministro britânico justificou dizendo que " É perfeitamente cabível que a região que abriga quase metade do membros fundadores das Nações Unidas (América do Sul) tenha representação nas instituições internacionais". No dia anterior, em Washignton, o Presidente Obama havia defendido o ingresso da Índia como membro permanente. Logicamente que todos esses discursos tem uma motivação extra. No caso da Grã-Bretanha seria o de atingir o seu rival sulamericano, a Argentina (ainda é intensa a discussão sobre as Ilhas Malvinas), já no caso americano é uma reposta ao crescente poderio econômico e geopolítico da China e ao desequilíbrio das relações comerciais entre os dois países, principalmente após a crise de 2008.
O certo é que todos os analistas políticos são unânimes em prever que a reforma do Conselho de Segurança passará ainda por muitas discussões e não sairá do papel a curto ou a médio prazo.
Fonte: Jornal Zero Hora (Edições impressas de 11/11/2010 e 07/02/2011)
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