Desde o último dia 12 de janeiro quando recebi a notícia de que um grande terremoto havia assolado o já combalido Haiti, iniciei a busca incessante por informações sobre os muitos amigos que ainda estão por lá. Algumas destas amizades foram formadas através da internet, como o Capitão Algenor - PMAM - e o Tenente Couto - PMPE, os quais ainda não conheço pessoalmente. Outros são amigos de longos meses de convivência em Porto Príncipe, como os UNPOLs espanhóis da Guardia Civil Miguel e Andrés, que retornaram ao Haiti para mais um ano de serviço, ou o Salvadorenho Jaime Vigil, UNPOL que se tornou funcionário da ONU. Tinha, ainda, o Capitão Freitas, meu colega de turma da APM-RS, que está a serviço da ONU em Gonaives.
Aos poucos as notícias foram chegando, primeiro o Capitão Freitas que conseguiu entrar em contato com a esposa em Porto Alegre ainda na madrugada do dia 13 de janeiro informando que estava bem. Após isso o Capitão Algenor nos mandou um e-mail, curto mas significativo “ Estamos vivos e bem. Cap Algenor e Ten Couto”.
Seguidos a estes, as notícias de que os demais estavam bem foram chegando. Mas faltava um. O Tenente PMDF Cleiton Baptista Neiva. Os oitos dias que se seguiram ao desastre foram angustiantes, muitos de nós gostaria de estar lá, tentando ao menos ajudar nas buscas. Ver o Hotel Christoper, QG da MINUSTAH, reduzido a monte de entulhos foi um momento extremamente difícil, pois, assim como a maioria dos policiais militares brasileiros que estiveram em Porto Príncipe, eu trabalhei 6 meses naquele local.
Infelizmente, no dia 21 ao final da tarde recebemos a confirmação de que o Cleiton havia sido encontrado próximo ao seu posto de trabalho, nos andares inferiores do QG da ONU, já sem vida. Demora um pouco assimilar que um amigo partiu.
O Tenente Cleiton era “o cara do sorriso largo”, sempre de bem com a vida, extremamente profissional em suas missões, tratava a todos com muita educação, sem distinções. Lembro que me chamava atenção o respeito com que tratava os funcionários haitianos da ONU, muitas vezes se comunicando em seu idioma, o creóle, dominado por poucos estrangeiros.
O Cleiton estava sempre disposto a dar uma palavra de incentivo aos novos que chegavam à missão. Em síntese, trabalhava no que gostava, era um idealista, mais um brasileiro a serviço da paz mundial. Somava-se a isso o fato da ONU ter lhe proporcionado constituir sua própria família, pois foi em Porto Príncipe que o Cleiton conheceu sua esposa Irene, de nacionalidade austríaca, também funcionária da ONU.
Para mim ficam na lembrança os vários momentos em que estivemos juntos, como na recepção organizada pela Embaixada Brasileira por ocasião do dia 07 de setembro de 2007 (foto), onde estivemos com ele e a Irene. Ou quando o Cleiton me recebeu na base da ONU em Gonaives por ocasião de um treinamento com a FPU do Paquistão (foto). Tem ainda a cerimônia do Medal Parade do contingente policial brasileiro em outubro de 2007, quando o Cleiton quase foi às lágrimas no momento em que cantamos com todas as forças o Hino Nacional Brasileiro.
Por fim, um momento marcante foi quando ele e a Irene convidaram aos brasileiros (UNPOLs e funcionários civis da ONU, incluindo o Deputy-SRSG Sr Luis Carlos da Costa, também falecido em conseqüência do terremoto) para um jantar em seu apartamento no bairro de Pétion Ville. Naquela ocasião, entre outras coisas, nos mostraram o álbum de fotos e o vídeo da cerimônia de casamento realizada no Haiti. Foi naquele dia, também, que o Cleiton e a Irene anunciaram a todos que estavam “grávidos”. Estas são as imagens que ficam do guerreiro Cleiton.
Peço licença aos autores para finalizar com uma frase contida em uma carta fictícia do Capitão Bruno Ribeiro, militar gaúcho falecido no Haiti, e que foi lida por um familiar durante a cerimônia de seu sepultamento ocorrido ontem na cidade de Santa Maria-RS, a qual, penso, expressa o sentimento de muitos de nós que já estiveram em missão.
“...Não briguem comigo pela forma que eu retornei, fui em busca de meus ideais...”
Aos poucos as notícias foram chegando, primeiro o Capitão Freitas que conseguiu entrar em contato com a esposa em Porto Alegre ainda na madrugada do dia 13 de janeiro informando que estava bem. Após isso o Capitão Algenor nos mandou um e-mail, curto mas significativo “ Estamos vivos e bem. Cap Algenor e Ten Couto”.
Seguidos a estes, as notícias de que os demais estavam bem foram chegando. Mas faltava um. O Tenente PMDF Cleiton Baptista Neiva. Os oitos dias que se seguiram ao desastre foram angustiantes, muitos de nós gostaria de estar lá, tentando ao menos ajudar nas buscas. Ver o Hotel Christoper, QG da MINUSTAH, reduzido a monte de entulhos foi um momento extremamente difícil, pois, assim como a maioria dos policiais militares brasileiros que estiveram em Porto Príncipe, eu trabalhei 6 meses naquele local.
Infelizmente, no dia 21 ao final da tarde recebemos a confirmação de que o Cleiton havia sido encontrado próximo ao seu posto de trabalho, nos andares inferiores do QG da ONU, já sem vida. Demora um pouco assimilar que um amigo partiu.
O Tenente Cleiton era “o cara do sorriso largo”, sempre de bem com a vida, extremamente profissional em suas missões, tratava a todos com muita educação, sem distinções. Lembro que me chamava atenção o respeito com que tratava os funcionários haitianos da ONU, muitas vezes se comunicando em seu idioma, o creóle, dominado por poucos estrangeiros.
O Cleiton estava sempre disposto a dar uma palavra de incentivo aos novos que chegavam à missão. Em síntese, trabalhava no que gostava, era um idealista, mais um brasileiro a serviço da paz mundial. Somava-se a isso o fato da ONU ter lhe proporcionado constituir sua própria família, pois foi em Porto Príncipe que o Cleiton conheceu sua esposa Irene, de nacionalidade austríaca, também funcionária da ONU.
Para mim ficam na lembrança os vários momentos em que estivemos juntos, como na recepção organizada pela Embaixada Brasileira por ocasião do dia 07 de setembro de 2007 (foto), onde estivemos com ele e a Irene. Ou quando o Cleiton me recebeu na base da ONU em Gonaives por ocasião de um treinamento com a FPU do Paquistão (foto). Tem ainda a cerimônia do Medal Parade do contingente policial brasileiro em outubro de 2007, quando o Cleiton quase foi às lágrimas no momento em que cantamos com todas as forças o Hino Nacional Brasileiro.
Por fim, um momento marcante foi quando ele e a Irene convidaram aos brasileiros (UNPOLs e funcionários civis da ONU, incluindo o Deputy-SRSG Sr Luis Carlos da Costa, também falecido em conseqüência do terremoto) para um jantar em seu apartamento no bairro de Pétion Ville. Naquela ocasião, entre outras coisas, nos mostraram o álbum de fotos e o vídeo da cerimônia de casamento realizada no Haiti. Foi naquele dia, também, que o Cleiton e a Irene anunciaram a todos que estavam “grávidos”. Estas são as imagens que ficam do guerreiro Cleiton.
Peço licença aos autores para finalizar com uma frase contida em uma carta fictícia do Capitão Bruno Ribeiro, militar gaúcho falecido no Haiti, e que foi lida por um familiar durante a cerimônia de seu sepultamento ocorrido ontem na cidade de Santa Maria-RS, a qual, penso, expressa o sentimento de muitos de nós que já estiveram em missão.
“...Não briguem comigo pela forma que eu retornei, fui em busca de meus ideais...”
Minhas sinceras condolências à família enlutada do 1º Tenente PMDF Cleiton Baptista Neiva.
3 comentários:
Marco,
Você expressou muito bem nossa consternação na sua mensagem.
O Cleiton era uma excelente pessoa.
TC Braga
Caro Marcos de todas as pauladas que ja levei em minha vida, essa foi a mais dolorida, a perda do amigo Cleiton, voce conseguir resumir perfeitamente essa espetacular pessoa que conviveu um ano em minha vida, sentirei muito a sua falta aqui nessa missao meu amigo, sei que Deus nosso pai estava precisando de voce para liderar seus exercitos, um grande abraco do amigo Algenor
Valdemir - BSB
Tive a oportunidade de testemunhar as qualidade que o caro Marco atribui ao Cleiton quando servimos juntos no CFAP no ano de 2004.
Todos os so que o conheceram e conviveram com ele podem agora dizer que um grande ser humano e um profissional exemplar participou de suas vidas.
Esteja em paz Cleiton. Sabemos que você mereceu o "bom lugar". Você continuará sendo motivo de orgulho para nós na PMDF.
Major Valdemir
UNMIS 2007-8
Postar um comentário