sexta-feira, 28 de maio de 2010

Armamento: História Nova e Problema Antigo


O contingente policial brasileiro que esteve no Timor Leste nos últimos 12 meses já está em solo brasileiro. O retorno para casa, além de cansativo pelo número de dias de viagens e conexões aéreas, foi "coroado" na chegada ao Brasil com some problems com a Receita Federal no quesito: Transporte do Armamento e munições. Bom, a leitura do excelente texto publicado pelo Capitão Vilaça (foto) em seu blog (link na coluna à direita), o qual me permito publicar abaixo, trás a idéia do sentimento de um brasileiro ao chegar em seu país após um ano trabalhando "no outro lado do mundo". É uma história nova, mas com um problema muito antigo.
"É aquela velha história: “o bom filho à casa torna” e, depois de 371 dias distante de casa, finalmente, voltei.
Muita gente pode dizer que um ano (e seis dias) passa rápido, mas pergunta lá em casa pra ver… A coisa pareceu uma eternidade. Não é fácil se aventurar sozinho em um país distante, recém-saído de um período de conflitos, com uma infraestrutura pra lá de precária e tão longe que, como já contei anteriormente, devido às 12 horas de diferença no fuso horário, fazia com que eu estivesse dormindo enquanto vocês almoçavam, e vice-versa.
Mas, como disse o Júlio César, que não é o goleiro da seleção do Dunga: “vim, vi e venci”, e, se não venci, ao menos empatei. O importante é que tenho a consciência de que dei o meu melhor e escrevi o meu nome na história de um país em reconstrução.
A experiência em si foi fantástica. Tive a oportunidade de conhecer pessoas de várias partes do mundo, suas línguas, diferentes culturas e costumes, religiões, crenças, vestuário, comidas e muitas outras coisas que, quando muito, eu via apenas no cinema.
No pouco tempo livre, além de escrever crônicas para o Blog, aproveitei para viajar a países que eu nunca havia pensado em ir, pedalei bastante, comecei a mergulhar e fiz alguns amigos. Ainda assim, sempre senti muita falta de tudo que deixei no Brasil quando parti.
Deixando tudo bem claro, e antes que me venham perguntar: sim, a experiência valeu a pena, mas nem voltei com uma promoção nos ombros e tampouco rico, ou seja, quem estiver pensando em pedir empréstimo, esqueça! Por outro lado, se tiver alguma grana sobrando e uma taxa de juros simpática para os amigos, meu telefone é o mesmo e eu prometo que pago em dia.
Voltando à conversa, a missão da ONU era um sonho que eu tinha desde os tempos de Academia e, enfim, consegui realizar. Quem acompanhava as minhas crônicas pôde ter idéia do que eu passava, do meu dia a dia, das cenas pitorescas do cotidiano e de tudo o mais que, no último dia 8 de maio, chegou ao fim.
A viagem de volta foi longa: 3 dias, 6 aeroportos, 5 aeronaves, 3 companhias aéreas e incontáveis passagens por aquelas esteiras, detectores e raios-X. Tudo estava correndo muito bem, em que pese o cansaço, até que chegamos a São Paulo… bom, como era de se esperar, estávamos voltando ao Brasil, após a missão no Timor Leste, e trazíamos as nossas armas, com toda a documentação que nos autorizou a sair do país com elas no ano passado e que, na minha lógica mais básica, nos justificaria e acobertaria a trazê-las de volta, certo? Errado! Os “atenciosíssimos” funcionários da Receita Federal (todos com aqueles distintivos de policial americano escrito: “CUSTOMS”), resolveram que, se podiam complicar, pra que ajudar? Pediram originais de documentos que só nos forneceram cópias e inventaram formulários e autorizações que nunca havíamos ouvido falar.
Aí, imaginem a cena: esgotados por toda a viagem, querendo ficar felizes por estar chegando em casa, e nos acontece uma dessas… o pior, mas que tenho que dizer, é que fomos muito melhor tratados lá fora, mesmo carregando armas na bagagem em países com histórico de ataques terroristas e tudo o mais.
Tentamos argumentar, mostramos os papéis que comprovavam que saímos com as armas, que as armas pertenciam aos nossos respectivos estados e até mesmo um comprovante da própria Receita Federal… nada os fez mudar de idéia.
Não vou mentir, a vontade era de xingar o imbecil e mandar ele enfiar as pistolas no… bom, onde ele achasse que coubessem. Os outros ainda quiseram ficar discutindo, mas eu os convenci de que o melhor era seguirmos o resto de nossa viagem e documentar tudo para resolver pelos canais oficiais, quem errou ou nos orientou mal, que assuma as suas falhas.
Particularmente, não via a hora de entrar no último avião daquela jornada, pois estava doido para abraçar a família e os amigos que eu sabia que me esperavam no Aeroporto Internacional Gilberto Freyre. Corria para o novo check-in e, faltando cinco minutos para a uma da manhã do dia 11 de maio de 2010, eu já estava abraçando meus filhos novamente.
No dia seguinte, botei o currículo debaixo do braço e fui ao Quartel do Comando Geral para “pedir emprego”, fui bem recebido e, na hora do almoço, estava numa mesa grande, rodeada de colegas de trabalho interessados em ouvir algumas histórias.
E é isso… estou tentando reencontrar à rotina de antes. A primeira barreira vencida foi a da diferença de horário, agora estou voltando a escrever meus textos e espero ainda contar com a paciência de vocês para lê-los. Novas viagens a trabalho? Segundo a chefe de administração doméstica: “nem tão cedo, mocinho… nem tão cedo…”.
Do Brasil, com carinho,
Gus
Recife-PE, 23/05/10"

Um comentário:

Cap PMAM Honda disse...

Quanto ao suscinto resumo de como foi e o que a missão representou: excelente! Parabéns pelo término de missão e pelo dever cumprido!

Quanto à via crucis em solo tupiniquim para poder entrar com armamento: SEM COMENTÁRIOS e um longo, longo suspiro...

Abçs a todos.

Cap PMAM Honda - MINUSTAH 2010/11